DEUS AINDA FALA:
Derrubando muros e construindo esperança.
“Não te peço que os tire do mundo, mas os livre do maligno” João 17:15
Sabemos o quanto Deus fala e nos chama a um amor inclusivo. Contudo, impregnados pelo fundamentalismo religioso que solidificou nossa formação, esse ouvir Deus pode receber muitos sinais de interferência. Por isso, nos propusemos, durante quatro dias de retiro das Igrejas da Comunidade Metropolitana do Brasil, a refletir sobre este falar e assim descobrirmos como, quando e de que modo Deus fala conosco.
O primeiro momento de reflexão foi feito por meio de questionamento, apresentado pelo Diácono Dário Neto da ICM de São Paulo: Deus ainda fala? O que é esse falar? Fala por meio do que ou de quem? Em qual língua Deus fala? Para quem fala? Qual a tonalidade da voz que fala? Em qual contexto Deus fala? Qual o conteúdo dessa fala? Fala do mesmo modo a todas as pessoas? Fala a todas ou só a algumas pessoas? Por meio de noções básicas da Análise de Discurso com base em Mikhail Bakhtin, John Austin e alguns estruturalistas franceses, pudemos meditar na palavra como construção e interação humana e o quanto ela pode ser destrutiva em nossas relações e nossa fé. Entendendo Jesus como a palavra de Deus – ao nos tornarmos um com ele por meio da fé em sua graça redentora – tornamo-nos palavra de benção como instrumentos da fala de Deus ao mundo.
A seguir, o Rev. Márcio Retamero da ICM do Rio de Janeiro tratou das técnicas a serem utilizadas na homilia para podermos desenvolver este falar divino a todas as pessoas. Como igreja inclusiva, a ICM tem o grande desafio de fazer com que a palavra de Deus seja anunciada de forma mais límpida sem nenhuma interferência do moralismo e preconceito humano, garantindo a inclusão das pessoas na comunidade de fé. Desse modo, a Teologia Inclusiva, professada pelas ICM do Brasil e do Mundo, tem três dimensões a serem abarcadas: a dimensão individual, a eclesial e a social ou profética. A dimensão individual visa à edificação pessoal, o chamamento individual, o crescimento espiritual enquanto sujeito, que busca alicerçar-se sobre o fundamento escriturístico, evangélico. A dimensão eclesial visa comunidade de fé que busca nas Escrituras sua chama vital, seu chamado, sua desconstrução, seu papel etc. buscando ouvir o “espírito” do Evangelho que sempre nos interpela e nos exige resposta de aceitação ou rejeição aos seus apelos de vida em abundância. Por fim, a dimensão social ou profética visa o papel da comunidade de fé no geral, e em cada sujeito nela inserida, em particular, no chamado profético recebido no sacramento do batismo de ser testemunha de Cristo no mundo, nos faz ganhar as ruas em busca de justiça social e estabelecimento de Direitos Humanos em nossa sociedade.
O grupo de dança da ICM de Belo Horizonte – SARTEF –, liderado pelo Diácono Gilbert, apresentou-nos uma interessante oficina sobre os significados de cada movimento feito na dança durante os cultos. Cada cor utilizada, cada paramento usado, carrega em si sentidos que são utilizados como o falar de Deus à comunidade. Desse modo, pudemos entender a importância da dança como ritual litúrgico para enriquecer a palavra divina no coração da comunidade. Após essa apresentação, o grupo de Libras da ICM de São Paulo, liderado pela Susane e apoiado pelos intérpretes de Libras da ICM de Belo Horizonte, possibilitou-nos, por meio de oficina uma maior compreensão da importância da inclusão de surdos no corpo da comunidade. Tal apresentação fez-nos ver o quanto que nós, ouvintes, somos deficientes e limitados no ato da inclusão de outras pessoas que também pertence a família de Deus.
Por fim, a Presbitera Lea, da ICM Betel do Rio de Janeiro, e da Editora Metanóia, apresentou-nos a importância da literatura, da leitura, as limitações do mercado editorial cristão e LGBT em não publicar livros sobre Teologia Inclusiva. Entendendo, como mais um meio pelo qual Deus nos fala, apresentou-nos um catálogo interessante de livros já publicados nesta Editora que podem nos respaldar na compreensão do que seja a Teologia Inclusiva.
Certamente, os Sermões realizados nos cultos, as mensagens de louvor e toda convivência íntima e cristã entre as pessoas presentes nesse Retiro também foram formas ricas e importantes do falar de Deus com a comunidade. E como não tinha de ser diferente, no domingo, várias pessoas celebraram o sacramento do Batismo como forma de reconhecimento da graça de Cristo em suas vidas.
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