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Mensagem da Celebração de Casamento Coletivo
Escrito por Diac.Dário Ferreira   
15-Jun-2009

Reunimo-nos aqui hoje para a celebração do amor que dentro de uma perspectiva contratual propõe uma relação marcada pela fidelidade, pelo companheirismo mútuo, pelo ato de compartilhar na conjugalidade a felicidade social. E fosse apenas isto, estaríamos em apenas um dos milhões de eventos definidos como casamento.

Esta noite e este evento trazem algo que repete o ano anterior: a benção cristã sobre o casamento homoafetivo. Essa particularidade que chama para si o interesse do público presente deve-se ao caráter transgressor deste momento. Na sociedade brasileira, além de não haver o reconhecimento legal das uniões homoafetivas, há uma forte rejeição e condenação ao amor entre pessoas do mesmo sexo pelas instituições religiosas seculares. 


 

Duplamente negado: pela justiça e pela igreja, o amor contratual manifesto por MIQUELE e LÉIA, MARCELO e ROBERTO, IVETE E ROBERTA, ANA MARIA E MEIRE é marcado pela transgressão.

E talvez, neste contexto do termo transgressão, faça-nos sentido as palavras do Cântico dos Cânticos que diz no capítulo 7 e versículo 6:

“Põe-me como selo sobre o teu coração,

Como selo sobre o teu braço,

Porque o amor é forte como a morte”.

Dado em sentido pejorativo em nossa cultura, o verbo transgredir possa não ser quisto por muitos presentes. Contudo, quero recuperar esse verbo em sua ação que dá o tom certo ao ato do amor. Originado do Latim – transgredire – tem como sentido primeiro ir além, quebrar regras, desobedecer.

 Moisés foi transgressor, quando, em nome de Deus, desafiou o poder de Faraó e a cultura escravista dos egípcios para libertar o povo de Israel.

Cristo foi transgressor, quando, na Cruz, rasgou o véu do templo e ultrapassou a lei judaica para garantir a salvação de graça a toda humanidade.

Martinho Lutero foi transgressor ao desafiar o poder da Instituição Católica e garantir o direito a fé a todas as pessoas sem ter de pagar indulgências.

Mahatma Gandhi foi transgressor, quando desafiou o poder colonizador da Inglaterra para garantir o direito a vida digna dos indianos.

Rosa Parks foi transgressora quando desafiou as normas racistas dos Estados Unidos para garantir direitos iguais entre brancos e negros.

Marthin Luther King foi transgressor ao combater o racismo nos Estados Unidos em defesa da igualdade pelos direitos civis.

Harvey Milk foi transgressor ao lutar pelos direitos LGBT’s na California e combater a homofobia nos Estados Unidos.

Mãe Menininha do Cantua foi transgressora quando, contra uma cultura religiosa exclusivista e racista, defendeu o direito e lutou pela manutenção dos terreiros de Candomblé.

Nelson Mandela foi transgressor ao desafiar o apartheid na África do Sul, combatendo o racismo e defendendo a igualdade racial.

Irmã Dorothy foi transgressora ao desafiar fazendeiros e exploradores criminosos da Região Amazônica em defesa dos camponeses e da reforma agrária.

Pois é exatamente isso que fazemos neste dia: vamos além do que nos permite a lei brasileira, vamos quebrar a regra heteronormativa de nossa cultura e vamos desobedecer, em nome de Deus, o que nos é imposto pelas instituições religiosas, abençoando e reconhecendo a legitimidade do amor desses casais.

E fazemos isso não apenas como um ato militante ou um ato de protesto, mas pela força do amor que traz diante de nós cada um desses casais. Ao penhorar diante de Deus este amor, fazem-nos testemunhas desse ato transgressor que desafia a moral repressora, que desafia a própria história e que buscam para si a isonomia, legitimando o amor que já vivenciam entre si.

É por amarem-se que se dispõem publicamente a transgredir e contribuir para uma virada na nossa história brasileira. É por amarem-se que vão além do que é determinado socialmente como casamento. É por amarem-se que quebram e enfrentam as regras sociais. É por amarem-se que desobedecem a imposição das instituições para legitimar e declarar este amor publicamente. É este amor tão forte como a morte e tão real quanto a vida que possibilita a felicidade e a dignidade de se constituírem como um casal diante de Deus e da sociedade.

O Reverendo Cristiano Valério, como ministro instituído por Deus, abençoará a cada um destes casais. Mas que possamos nós juntos dispensar nossas bênçãos como forma de reconhecimento e de legitimação deste ato. Que MIQUELE e LÉIA, MARCELO e ROBERTO, IVETE E ROBERTA, ANA MARIA E MEIRE, possam dizer neste momento:

“Põe-me como selo sobre o teu coração,

Como selo sobre o teu braço,

Porque o amor é forte como a morte”.

 

E que as bençãos de Cristo que nos amou infinitamente dando sua vida para cada um de nós sejam manifestas na vida desses casais.

AMÉM!

Veja aqui Fotos da Celebração

 

 

 

                       
Atualizado em ( 15-Jun-2009 )
 
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