"Nos séculos III, IV, as maiores teólogas eram mulheres. Mas, se pegarmos qualquer livro do século XX, só aparecem homens. Será que não existiu nenhuma pensadora de envergadura no século XX? E Teresinha de Lisieux, não é uma pensadora importante? O papa acabou de reconhecê-la como doutora da Igreja. Só há 33 doutores na Igreja. E doutor na Igreja quer dizer o bambambã: é Agostinho, Tomás de Aquino, Afonso de Ligore. Lá estão Catarina de Sena, Teresa de Ávila e Terezinha de Lisieux, três mulheres. Hoje temos grandes teólogas, como a americana Elizabeth Fiorenza Schusler, as brasileiras Ivone Gebara, Ana Maria Tepedino, Maria Clara Bingemer, Tereza Cavalcante, só na lista de algumas que conheço pessoalmente. Maria Clara é das mais competentes teólogas da PUC do Rio.
A reflexão que Ivone Gebara faz sobre a Santíssima Trindade é inovadora para a teologia do mundo. Nós estamos num momento muito fecundo, embora restrito. Talvez elas apareçam menos, porque também é verdade que o número de teólogas é muito menor."
UMA REVISÃO
"A mãe de Jesus tem um lugar especial na Igreja primitiva.(...) Alguns dizem: se Maria tem um lugar de tal destaque não participava das escolhas de Jesus? O primeiro cristão a ser batizado na Europa por Paulo foi uma mulher. Adolf Von Harnack (1851-1930) - um dos mais competentes estudiosos da Bíblia, teólogo que escreveu o Tratado de História dos Dogmas e mudou o pensamento protestante da época - comprovou que a carta aos Hebreus foi escrita por Priscila e não por Paulo. Jesus nunca foi misógino. Será que o jeito que lemos Jesus não é o jeito masculino de ler? Ele teve um grupo de seguidoras, a Maria Madalena, a Miriam, a própria mãe dele. Assim como Paulo o teve. Paulo é acusado de machista porque disse: 'assim como na vida têm que ter quem mande, uns tem que ser submetidos aos outros, que a cabeça da mulher seja o marido. Se o chefe de todos é Cristo, o chefe da mulher é o homem'. Ele está dizendo isso dentro da lógica judaica, numa cidade onde a perversão sexual era enorme, Corinto, em que a prostituição era total. Paulo abole com a circuncisão e diz que para entrar na Igreja só será preciso mergulhar na água, e isso homem e mulher podem fazer. Em Gálatas está escrito que diante de Cristo não há mais escravos nem livres, nem homem nem mulher, porque todos são um neste Cristo, Jesus. É uma fala quentíssima. O Cristianismo originário não é sexista, não é machista. E Jesus foi muito humano. Há uma cena lindíssima do Evangelho quando levam uma parente de Jesus para ser apedrejada, porque pega em adultério. A mulher o questiona e ele lança aquele desafio para todos: que atire a primeira pedra quem não tiver um pecado. E então Jesus diz: 'Vá em paz, não peques mais'. É um ponto nevrálgico: a mulher muda Jesus."
MOVIMENTAÇÃO GERAL
Nos últimos 40 anos há movimentos em várias igrejas para a inclusão das mulheres. No metodismo brasileiro, por exemplo, já há episcopisas. Em alguns lugares dos Estados Unidos mulheres católicas celebram missa, se autodotaram do poder de presidir a eucaristia. Isso tem valor? Tem valor simbolicamente, como um ato feito por cristãos, só que é válido e ilícito, simultaneamente. Todo gesto de fé tem validade, Santo Tomás dizia que até o demônio se fizer o bem já não é mais demônio. Só que não está em comunhão com o que a Igreja definiu, o que gera uma irregularidade, uma ilicitude. Algumas dizem que fazem isso para forçar, só que isso às vezes tem uma função pedagógica negativa porque força tanto que rompe. O grupo é considerado sectário, estranho ao corpo, gera repulsa, 'ah, essas católicas rebeldes'. Esse movimento já existe lá há 30 anos e nunca reverberou aqui. No Brasil a mulher tem uma participação forte nas comunidades cristãs, na catequese, na liturgia, nas congregações. Talvez não seja o espaço do reconhecimento institucional mais pleno, mas ela tem lugar, é reconhecida, sabe que realiza coisas fundamentais.
A MULHER NA IGREJA DA COMUNIDADE METROPOLITANA
As mulheres tem um espaço de destaque na Igreja da Comunidade Metropolitana, desde a sua fundação em 1968 a igreja tem a presença de mulheres na sua liderança. Hoje a ICM esta em mais de 26 paises do mundo e a maioria de dos lideres regionais são Bispas, nossa moderadora mundial é uma mulher, Revda. Nancy Wilson.A ICM quer ser um lugar onde todos são bem vindos e todas são bem vindas para viverem aqui a liberdade e a alegria dos fihos e das filhas de Deus.
*Uma perspectiva feminina Andréa Barros
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006
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